Turistas e residentes entre a alegria e a indiferença
Macau celebrou o 20.º aniversário da transição de administração de Portugal para a China com pompa e circunstância, mas longe das cerimónias oficiais o sentimento de residentes e turistas foi da alegria à indiferença.
Junto ao Pagode da Barra, uma das zonas mais tradicionais da cidade, Wong passeia com o filho, que leva na mão uma pequena bandeira da região: “Hoje levei-o a ver a cerimónia ao Lótus Dourado e deram-lhe lá isto”, explica o residente, referindo-se ao Içar da Bandeira, que marcou o arranque das celebrações logo pela manhã.
“Ele acorda sempre cedo”, diz Wong, com um sorriso algo cansado, acrescentando, com orgulho: "Acho que é um momento com grande significado. Foi a primeira vez que ele viu o Presidente” chinês, Xi Jinping.
Ao ouvir a conversa, Leong não resiste a meter a colher: “Essas cerimónias são só para os ‘peixes grandes’!”. Para a maioria dos residentes de Macau, diz a sexagenária, o dia 20 de dezembro é apenas o início de um período de feriados que termina no dia de Natal.
“A minha filha aproveitou para viajar para a Tailândia com a família”, acrescenta.
Ainda assim, Leong tem expectativas para o novo Governo de Macau, a quem Xi Jinping deu hoje posse.
O novo chefe do Executivo da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), Ho Iat Seng, “tem de construir mais habitação pública, porque as rendas estão altas demais, e encontrar melhores empregos para os locais”, diz.
Já Wong prefere sublinhar que “Macau mudou muito" desde 1999, quando Macau voltou a ser um território administrado pela China, e que "a economia melhorou bastante”.
Wong trabalha como motorista de autocarro, uma de várias profissões reservadas para residentes em Macau, o que levou a que o salário mediano no setor dos transportes tenha triplicado nos últimos 20 anos, atingindo 16 mil patacas (2 mil euros).
Do outro lado da rua está um hotel-casino onde Feng veio apostar uns trocos. Natural da província de Hebei, na China, admite não saber que hoje se comemora o 20.º aniversário da RAEM.
“É a primeira vez que venho a Macau”, diz, em forma de justificação.
Pelo contrário, há vários meses que Miao ouve falar do aniversário na Universidade Cidade de Macau, onde começou este ano a estudar português.
“A educação aqui está a melhorar muito e parece que se investe mais do que no continente [chinês]”, diz esta estudante, vinda da província de Anhui, na China.
“Agora era bom que o metro ligeiro passasse por aqui”, acrescenta, com um sorriso, enquanto espera por um autocarro.
Também You ouviu falar da visita de Xi Jinping e estranha não ver nas ruas bandeiras, tarjas e outros adereços que assinalem a ocasião.
Ao saber que se comemora os 20 anos da administração chinesa de Macau, o visitante do território, que veio da China, responde: “Ai é? Pensei que ele [Xi Jinping] vinha cá por não ser seguro ir a Hong Kong”.
A transferência da administração de Macau de Lisboa para Pequim, em 1999, foi feita sob a fórmula 'um país, dois sistemas', que garante ao território um elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário.
A fórmula aplica-se também à outra região da China com esta administração especial, Hong Kong, onde os últimos seis meses têm sido marcados por protestos o poder político.
Vítor Quintã