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Português está a expandir-se em África, sobretudo através de línguas nativas

Um grupo de investigadores de políticas linguísticas defendeu, num colóquio em Macau, que “o português europeu” está a expandir-se nos países africanos lusófonos, sobretudo através do fenómeno de nativização, do contacto com línguas indígenas.

O crescimento do uso da língua portuguesa como primeira e segunda língua verifica-se pelo menos em Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe, ex-colónias de Portugal, afirmaram os linguistas lusófonos num colóquio que decorreu na Universidade de São José, dedicado às variedades emergentes do português em África.

A escolarização tem tido contribuído decisivamente para a disseminação do português, “mas tem-se imposto pela nativização pelo facto de muitos professores não dominarem a norma europeia, mas serem falantes de variedades nativizadas do português”, exemplificou, o professor Feliciano Salvador Chimbutane, da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo.

“É crescente o número de falantes e o domínio de usos da língua portuguesa em Moçambique”, que tem uma população de quase 30 milhões, onde são faladas mais de vinte línguas africanas do grupo bantu e apenas cerca de metade fala o português, sublinhou.

“As políticas linguísticas definidas no período pós-colonial e contacto do português com línguas autóctones têm influenciado o processo de expansão”, sustentou o investigador da relação entre a língua, educação e cidadania, e da política e planificação linguística em Moçambique.

Já o professor Alan Baxter, da USJ, investigador em línguas crioulas, do português afro-brasileiro e do português de São Tomé e Príncipe, destacou o crescimento histórico do português rural de ilha de São Tomé, muito pelo contacto com as áreas urbanas e do movimento crescente para a cidade, igualmente através da assimilação linguística autóctone.

A migração, a escolarização em massa e o contacto com a comunicação social tiveram um papel-chave para a difusão do português, destacou o docente da Universidade de Macau Gabriel Antunes, da Universidade de Macau, investigador da língua portuguesa transplantada em África, Ásia e Brasil, e de línguas crioulas de base portuguesa.

O especialista assinalou que se o português de São Tomé e Príncipe é falado por quase toda a população, e apesar de alguma faixa etária usar ainda uma língua autóctone, os números demonstram que a maioria das línguas indígenas estão num processo de extinção, sobretudo entre os mais jovens.

Por seu lado, a professora do Instituto Politécnico de Macau Liliana Inverno, investigadora do contacto linguístico e do português de Angola, afirmou que “é indiscutível que os falantes do português estão a aumentar e que há uma mudança em curso no interior do país, uma situação que no litoral está consolidada”.

Os números e a realidade urbana, sobretudo entre os jovens, muito devido à escolarização provam isso mesmo, defendeu a docente numa exposição intitulada de “As novas variedades da língua portuguesa em África: uma força crescente”.

O colóquio na USJ foi promovido no âmbito das celebrações do Dia da Língua Portuguesa e da Cultura na Comunidade dos Países da Língua Portuguesa (CPLP), na qual a universidade possui o estatuto de observador consultivo.

 

João Carreira