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Massificação do jogo com menos jogadores VIP beneficia Macau e operadores

epa03710351 Gaming chips and playing cards are seen at the 'Global Gaming Expo (G2E) Asia 2013', in Macau, China, 21 May 2013. G2E is a trade show that focuses on casino-related issues and the expanding gaming industry in Asia.  EPA/ALEX HOFFORD

As analistas da Standard & Poor's (S&P) que seguem Macau consideram que a aposta na massificação do jogo em detrimento dos grandes jogadores é uma tendência positiva para o Governo e para os operadores.

"A percentagem de grandes jogadores face aos jogadores em massa tem vindo a diminuir, ficou abaixo dos 50% no princípio deste ano, quando dantes a relação era de mais de 70 jogadores para VIP 30 jogadores em massa, e isso, na nossa perspetiva, é salutar", disse a vice-diretora da análise de 'rating' empresarial da região Ásia Pacífico, Sandy Lim.

Na entrevista à Lusa nos escritórios da S&P em Hong Kong, as analistas explicaram que "a primeira vantagem do aumento dos jogadores em massa e diminuição dos jogadores VIP tem a ver com a volatilidade destes gastos, que estão ligados à liquidez, aos angariadores e ao sentimento geral da macroeconomia, ao passo que os jogadores com menos poder financeiro, apesar de também estarem dependentes de vários fatores, têm um comportamento mais estável.

"O 'mix' é mais salutar porque há mais estabilidade, os gastos podem crescer pouco, mas crescer constantemente e de forma sustentada", argumentou a diretora do departamento de análise de 'rating' empresarial, Sophie Lin.

Para além da menor volatilidade, o aumento da percentagem de jogadores oriunda da classe média tem a ver com as margens: "Os angariadores de grandes apostadores ['junckets', no original em inglês] representam 5 a 15% da receita das operadores, enquanto as margens para os jogadores em massa andam nos 25 a 40%, por isso são muitos mais lucrativos para as operadoras", argumentou Sandy.

Questionada sobre a evolução a curto prazo desta relação entre o número de jogadores VIP e jogadores da classe média, as analistas responderam que "apesar de poder haver alterações de trimestre para trimestre, a percentagem de jogadores VIP vai continuar a diminuir e os jogadores em massa vão valer mais de 50%, crescendo de forma sustentada".

O objetivo do Governo e também dos operadores, dizem, "é promover mais receitas vindas dos jogadores em massa e menos dos jogadores VIP", concluíram as analistas.

As receitas dos casinos em Macau caíram 2,4% no primeiro trimestre deste ano face ao período homólogo de 2018, e em abril caíram 8,3%, de acordo com os últimos dados da Direção de Inspeção e Coordenação de Jogos (DICJ) de Macau.

Uma das principais razões para a quebra das receitas dos casinos prende-se com a diminuição das receitas angariadas nas salas de grandes apostas, tradicionalmente frequentadas pelos 'jogadores VIP': no primeiro trimestre deste ano, o jogo ‘VIP’ sofreu uma redução de 13,4%, em relação ao período homólogo do ano passado, no qual tinha atingido 42,95 mil milhões de patacas (4,7 mil milhões de euros).

No ano passado, as receitas geradas pelo jogo ‘VIP’ foram de 166,09 mil milhões de patacas (18,02 mil milhões de euros), o que representa 54,8% do total arrecadado pelos casinos de Macau ao longo do ano, num total de quase 32,8 mil milhões de euros.

Contudo, nos três primeiros meses do ano, a fatia das grandes apostas representou apenas 48,8% do bolo total das receitas.

O resultado absoluto alcançado em 2018 foi o maior desde 2014, quando as receitas geradas pelo jogo 'VIP' registaram 212,535 mil milhões de patacas.

Macau, capital mundial do jogo e único território na China onde o jogo em casino é legal, registou, no ano passado, 302,846 mil milhões de patacas (32,796 mil milhões de euros) em receita do jogo, um aumento de 14% em relação face a 2017.

 

Governo de Macau deve renovar licença aos operadores atuais

"O nosso cenário base de análise é que as operadoras de jogo que cobrimos na nossa análise vão conseguir renovar a licença de jogo, baseado no histórico de forte investimento na indústria e na sociedade macaense, e também no esforço que estão a fazer para aumentarem a proporção de investimentos no setor 'não jogo' e na massificação dos jogadores, por oposição aos jogadores VIP", disse a diretora do departamento de análise de 'rating' empresarial, Sophie Lin.

Em entrevista à Lusa nos escritórios desta agência de notação financeira em Hong Kong, as analistas explicaram que "quando os operadores falarem com o Governo sobre a renovação das concessões, já têm argumentos para mostrar que têm sido bons cidadãos e que têm cumprido de perto as recomendações que são feitas nos acordos de concessão em vigor".

O Governo de Macau prolongou recentemente o contrato de concessão para duas operadoras até 2022, colocando todas em pé de igualdade, uma vez que as outras quatro já tinham um contrato assinado até esse ano.

"Agora estão todos em pé de igualdade, o que é bom para o Governo de Macau porque fica numa posição negocial mais vantajosa e assim pode preparar-se para negociar com os operadores sobre o que quer e também saber o que as operadoras querem do Governo de Macau", disse a vice-diretora da análise de 'rating' empresarial da região Ásia Pacífico, Sandy Lim.

Questionada sobre que alterações podem surgir no âmbito da renegociação dos contratos, Sophie Lin lembrou o exemplo de Singapura e apontou que é previsível que Macau force um aumento do investimento das operadores em áreas não diretamente ligadas ao jogo, como as infraestruturas, e também um maior envolvimento no financiamento do sistema de pensões.

"Singapura, que tem dois casinos em exclusivo a funcionar até 2030, pode servir de exemplo, porque o Executivo local propôs um aumento do investimento no setor do não jogo, ajudando à diversificação da economia e do turismo, de forma geral, e também mais verbas para infraestruturas, e acabou por garantir 6,6 mil milhões de dólares que estas duas operadoras vão investir no país até 2030", disse a analista.

Para além destes investimentos nas infraestruturas não diretamente ligadas ao jogo, Sophie Lin diz que um maior envolvimento no sistema de pensões é também previsível: "Devido ao tamanho da indústria do jogo comparativamente ao território, há muitos empregos nesta indústria, e o Governo pode dizer que pretende melhorar os benefícios sociais", afirma a analista, lembrando o exemplo da adesão de dois operadores ao esquema de pensões, e a adesão voluntária, pouco tempo depois, de outras duas operadoras.

Quanto à eventual entrada de novos operadores em Macau, as analistas da S&P não antecipam esse cenário, considerando que, mais importante do que a eventual nova concorrência, que teria de ter capacidade para competir com seis casinos já instalados e em plena atividade, "para os operadores a questão é saber se conseguem fazer crescer o seu próprio negócio", abrindo mais casinos e expandindo as outras atividades turísticas relacionadas.

Questionada sobre se o facto de os casinos serem propriedade de empresas norte-americanas poder ter influência na decisão do Governo de Macau, num contexto da tensão comercial entre os EUA e a China, Sandy Lim diz que não.

"Diria que o ponto não é serem ou não dos EUA, mas sim terem a capacidade de ajudar Macau a investir na indústria não jogo e de melhorar a vida das pessoas, mais do que a nacionalidade dos donos dos casinos", argumentou a analista.

"Do nosso ponto de vista, a haver impacto da tensão comercial entre os EUA e a China, ele será apenas indireto; a indústria do jogo pode ser impactada pela volatilidade da moeda e pelas taxas de juro, que afetam a capacidade de aceder aos mercados financeiros, o que é importante porque as operadores usam a emissão de dívida para financiar o desenvolvimento", acrescentou.

Por outro lado, admitiu, "o sentimento dos consumidores também conta" mas, conclui, a haver efeito, "será mais indireto porque até agora as tensões têm-se centrado noutras áreas e a indústria do jogo será das últimas a ser afetada".

Questionada sobre se já houve impacto da guerra comercial entre as duas maiores economias mundiais na atividade dos casinos em Macau, três deles norte-americanos, Sandy Lim desvaloriza os efeitos: "Olhando para os números de visitantes, os dados continuam muito saudáveis, já que no primeiro trimestre houve uma subida de 21,2% do número de visitantes, e olhando apenas para a entrada de chineses no território, o número até subiu 23,5%", conclui.