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Fundação da China lembra erosão das liberdades a pró-democratas de Hong Kong

epaselect epa07700888 Anti-extradition bill protesters take part in a march to West Kowloon railway station in Hong Kong, China, 07 July 2019. According to the events organizers, the march aims to spread the spirit of resistance all over Hong Kong Island to Kowloon and even to Mainland China.  EPA/CHAN LONG HEI

A deputada Cláudia Mo e o ativista Joshua Wong podem ter uma diferença etária de 40 anos, mas fundem-se na mesma visão pró-democrata que não se conforma com a perda de liberdades e da autonomia em Hong Kong.

A dias do aniversário da fundação da República Popular da China, após três meses e meio de protestos que resultaram em mais de 1.500 detenções, ambos testemunham a violência nas ruas e convergem na justificação para o clima singular de crescente tensão social e política: há uma gradual erosão de valores universais democráticos em Hong Kong.

Cláudia Mo, de 62 anos, sustenta que é preciso prudência na conclusão de que as manifestações representam uma rejeição dos valores e da cultura chinesa.

“Há que separar os nossos valores e cultura tradicionais - inclusive a nossa maravilhosa poesia ancestral, a piedade filial e talvez até o confucionismo -, da China de hoje”, alerta Cláudia Mo.

“Os jovens de Hong Kong estão a lutar, essencialmente, contra as doutrinas da China comunista, consideradas autoritárias e inumanas”, sustenta a ex-jornalista, que fundou o Partido Cívico em 2006 e que foi eleita pela primeira vez para o parlamento de Hong Kong em 2012, para ser reeleita quatro anos depois.

Após uma viagem com escalas em Berlim, onde se encontrou com o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, e em Washington, com direito a uma audiência no Congresso norte-americano, o ativista político Joshua Wong, de 22 anos, prometeu a intensificação dos protestos, começando já por esta terça-feira, quando se assinala precisamente o 70.º aniversário da fundação da República Popular da China.

Há cinco anos, foi um dos protagonistas do movimento “revolução dos guarda-chuvas”, que paralisou Hong Kong durante 72 dias consecutivos. Acabou condenado a dois meses de prisão por desobediência civil e foi libertado este ano, quando os atuais protestos ganhavam força e mobilizavam milhões de pessoas.

Num momento em que se cumpre o 5.º aniversário do movimento “Occupy Central” e a 48 horas do Dia da China, o ex-nomeado ao prémio Nobel da Paz em 2018 argumenta que, para além da luta pela autonomia e democracia, a população de Hong Kong “também está a combater os valores antidemocráticos da China Comunista”.

Antes de 1997, a autonomia de Hong Kong garantia-lhe o estatuto de centro internacional de negócios, sublinha o cofundador do movimento pró-democriacia Demosisto, ele que foi um dos alvos de uma série de detenções policiais em agosto.

Contudo, após a passagem da administração britânica do território para a China, “Hong Kong tem perdido lentamente a sua autonomia e pluralidade política”, frisa, para rematar: “Este verão de descontentamento é uma grande luta contra esse sofrimento”.

Cláudia Mo foi jornalista da agência de notícias France-Presse e cobriu em 1989 os acontecimentos na Praça Tiananmen, quando o movimento pró-democracia iniciado por jovens estudantes da Universidade de Pequim foi esmagado na noite de 03 para 04 de junho, após a entrada de tanques do exército para pôr fim a sete semanas de protestos, o que resultou num número indeterminado de mortos.

A deputada faz uma breve contabilidade do que se ganhou e perdeu com a passagem do território, há 22 anos, para a República Popular da China, que comemora esta terça-feira 70 anos: “Hong Kong ganhou pouco, exceto que não vivemos mais sob o domínio estrangeiro”.

Se por um lado a História provou até à exaustão os males do colonialismo, sustenta, a verdade é que durante a Hong Kong britânica “conseguiu-se aprender sobre valores universais como direitos humanos e o Estado de Direito”, ressalva.

Contudo, avalia a pró-democrata, “Hong Kong caiu numa situação em que mal consegue manter uma fachada de uma sociedade moderna”.

E conclui: “Perdemos gradual e continuamente as nossas liberdades”.