Maioria dos países que reconheceu a China abandonou Taiwan
O professor de ciência política da Universidade Nacional de Taiwan Syshyan Chen diz que a ilha de Taiwan foi abandonada pela maioria dos países que reconheceu a República Popular da China, país com o qual Portugal estabeleceu relações diplomáticas há 40 anos, em 08 de fevereiro de 1979.
“A maioria dos países do mundo estabeleceu relações diplomáticas com a China e abandonou Taiwan, (…) pelas realidades económicas e políticas, e submeteu-se à política única da China, que é a pré-condição para receber ganhos económicos” de Pequim, afirmou Syshyan Chen, docente especializado em Pensamento Político Ocidental e em Filosofia Política.
Por outro lado, defendeu que Portugal, como membro da União Europeia (UE), devia reconhecer o estatuto da Ilha Formosa, território para o qual os nacionalistas do Kuomintang se refugiaram durante a guerra civil chinesa, depois de terem sido derrotados pelo Partido Comunista Chinês em 1949.
No momento em que os portugueses assinalam 40 anos de relações diplomáticas com a República Popular da China, Syshyan Chen considera que este é um dos desafios que se colocam a Portugal perante Taiwan, “uma democracia que preza a liberdade e os Direitos Humanos”, e um território a que os “antepassados [portugueses] chamaram com alegria de Ilha Formosa há mais de 400 anos, quando a avistaram pela primeira vez”.
O professor recorda que Portugal é membro da União Europeia e questiona-se sobre “como vai responder ao anúncio da UE para se apoiar Taiwan junto da comunidade internacional”.
O especialista refere-se à resolução do Parlamento Europeu de 12 de setembro de 2018, na qual se instam os Estados membros a “envidarem todos os esforços para exortar a República Popular da China a abster-se de mais provocações militares” e na qual se “reitera o firme apoio à participação significativa de Taiwan em organizações internacionais, como a Organização Mundial de Saúde e a Organização da Aviação Civil Internacional”, já que “a exclusão permanente” daquele território “não se coaduna com os interesses” europeus.
Num momento de crescente pressão chinesa sobre a ilha que Pequim reclama, reforçada desde a ascensão do Presidente Xi Jinping, o especialista traça os dois cenários que devem merecer reflexão das autoridades portuguesas: por um lado, os “atos incivilizados e brutais no âmbito nacional e internacional”, com a China a ser “condenada pela sociedade internacional em várias ocasiões” e, por outro, Taiwan, uma “democracia que preza a liberdade e os Direitos Humanos”.
A República Popular da China foi proclamada em 1949, mas Portugal precisou de um interregno de 30 anos para reconhecer e estabelecer relações diplomáticas com o país comunista, o que só veio a acontecer depois do 25 de Abril, em 08 de fevereiro de 1979.
Lisboa assinou um tratado com Pequim que estabelecia que Macau era um território chinês sob administração portuguesa e que a transferência para a República Popular da China se efetuaria a 20 de dezembro de 1999.
O tratado foi assinado a 13 de abril de 1987 (Declaração Conjunta Sino-Portuguesa sobre a Questão de Macau).
João Carreira