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Banco da China queixa-se de falta de bons projetos em Portugal

epa03754051 A woman walks into a Bank of China office building in Beijing, China 21 June 2013. The Bank of China (BOC) issued a statement to deny media reports on 20 June 2013 claiming the bank had defaulted on 20 June, deferring transactions for a half hour due to fund shortages. The report first appeared on the official Sina Weibo account for 21st Century Business Herald, citing anonymous sources.  EPA/HOW HWEE YOUNG

A diretora-geral do Departamento de Instituições Financeiras do Banco da China admitiu à Lusa que é difícil encontrar bons projetos e oportunidades de investimento em Portugal, apesar de as empresas chinesas terem liquidez e vontade de investir.

"Estamos à procura de investimentos em Portugal, mas há um problema; o nosso mercado é muito líquido e não há muitas oportunidades, ou seja, temos o dinheiro e queremos investir mas é muito difícil para nós encontrar bons projetos e boas oportunidades" em Portugal, lamentou Wendy Sun Min.

Em entrevista à Lusa na sede do Banco da China Macau, a responsável pela ligação entre este banco chinês e as instituições financeiras internacionais acrescentou que, ainda assim, o objetivo é "fazer mais investimentos em Portugal", usando os vários fundos que têm sido criados nos últimos anos para este efeito.

"Temos um fundo sino-português, fundado pelo Governo chinês e também com algum financiamento disponibilizado por Macau, que tem várias fases, mas que já tem um capital inicial de 500 milhões de dólares [448 milhões de euros], e faseadamente, irá aumentando", acrescentou.

"Há outros fundos soberanos, como o Fundo de Cooperação da China, que também pode investir em Portugal, há muitos fundos disponíveis à procura de oportunidades para investir; aqui no Bank of China Macau também podemos financiar empresas, sejam públicas ou privadas, que estejam interessadas em investir nos países de língua portuguesa, e Macau pode ser um centro de apoio para esse investimento", apontou a responsável.

O aprofundamento da relação financeira da China com Portugal, especialmente visível nos últimos anos, mede-se também noutros aspetos da atividade do banco, que vão além do financiamento, disse Wendy Sun Min, apontando como exemplo deste aprofundamento das relações o recrutamento de mais pessoas que falam português fluente, que se juntam às cinco atuais, e o aumento da periodicidade das viagens para Portugal, que deixarão de ser anuais para passarem a ser trimestrais.

"Vamos começar a ir mais vezes a Lisboa, dantes íamos uma vez por ano e agora vamos começar a ir trimestralmente, para termos uma comunicação mais frequente com os bancos portugueses e com o mercado chinês, porque como vamos frequentemente à China, podemos passar e partilhar informações" que depois podem resultar em negócios e investimentos, disse.

"Vamos também promover oportunidades de investimento na China, porque com o passar da crise financeira e a recuperação económica em Portugal, as empresas já têm capacidade para exportar e se internacionalizarem, e contactam os seus banqueiros privados para encontrar oportunidades de investimento; estes bancos falam connosco e nós passamos a informação aos nossos clientes e parceiros na China continental", disse.

Para facilitar esta comunicação, Wendy Sun Min anunciou ainda o lançamento de uma plataforma eletrónica de comércio para resolver problemas de comunicação entre as entidades empresariais e financeiras dos dois países.

"A comunicação, no passado, não era feita presencialmente, mas sim através de correio eletrónico e telefonemas, e isto por vezes não é muito eficiente; estamos a tentar resolver isto lançando uma plataforma de e-commerce, na qual vamos publicar informações e oportunidades financeiras e de investimento, para que não seja preciso preocuparem-se com a diferença horária, a comunicação e a língua, porque podem usar a plataforma para saber mais sobre os projetos", concluiu a responsável.

 

Emissões de dívida de países lusófonos em moeda chinesa são benéficas para todos

A dirigente admitiu que o banco está "em contactos" com vários países lusófonos sobre uma eventual emissão de dívida em moeda chinesa.

"Temos alguns contactos, mas há coisas que temos de manter confidenciais, mas a emissão de títulos de divida em moeda chinesa é possível e é benéfica para ambas as partes", respondeu Wendy Sun Min quando questionada sobre uma possível emissão de dívida soberana de Angola ou Moçambique em renminbis.

Em entrevista à Lusa na filial de Macau do Banco da China, a responsável pelo contacto com as instituições financeiras internacionais lembrou que a moeda chinesa já faz parte das moedas aceites internacionalmente para emissão de dívida soberana "e por isso mais países estão a tomar atenção ao renminbi, de forma a terem algumas reservas nesta moeda".

Os títulos de dívida de um país emitidos em moeda chinesas são conhecidos como 'pandabonds', e Portugal é um dos países que se prepara para lançar dívida pública nesta moeda.

"A economia de Portugal está a melhorar, há bastante liquidez, as pessoas estão à procura de oportunidades e antes não estavam familiarizadas com o mercado chinês, e nós queremos ter a oportunidade de nos apresentarmos e mostrar as oportunidades de investimento para o mercado europeu e, em especial, para o mercado português", disse Wendy Sun Min.

Em outubro, Lisboa e Pequim assinaram, através da Caixa Geral de Depósitos e do Banco da China, um acordo que prevê a emissão de dívida pública portuguesa em renminbi.

Este foi um dos 17 acordos bilaterais formalizados durante a visita do Presidente chinês, Xi Jinping, a Portugal, no ano passado, que surgiu no seguimento da autorização dada pelo banco central chinês, em 2017, à emissão de dívida portuguesa nesse país.

Portugal é o quinto maior destino de investimento estrangeiro da China, num montante que já ultrapassou os nove mil milhões de euros desde o princípio desta década, mil milhões dos quais foram canalizados através da intervenção ou mediação do Banco da Cina, concluiu Wendy Sun Min.

Miguel Mâncio e Mário Baptista