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Turistas e residentes entre a alegria e a indiferença

epa07247731 Catholic takes photo beside the Xishiku Catholic Church in Beijing, China, 25 December 2018. Catholics in China attend church masses as they prepare to celebrate the religious holiday to commemorate the birth of Christ.  EPA/WU HONG

Macau celebrou o 20.º aniversário da transição de administração de Portugal para a China com pompa e circunstância, mas longe das cerimónias oficiais o sentimento de residentes e turistas foi da alegria à indiferença.

Junto ao Pagode da Barra, uma das zonas mais tradicionais da cidade, Wong passeia com o filho, que leva na mão uma pequena bandeira da região: “Hoje levei-o a ver a cerimónia ao Lótus Dourado e deram-lhe lá isto”, explica o residente, referindo-se ao Içar da Bandeira, que marcou o arranque das celebrações logo pela manhã.

“Ele acorda sempre cedo”, diz Wong, com um sorriso algo cansado, acrescentando, com orgulho: "Acho que é um momento com grande significado. Foi a primeira vez que ele viu o Presidente” chinês, Xi Jinping.

Ao ouvir a conversa, Leong não resiste a meter a colher: “Essas cerimónias são só para os ‘peixes grandes’!”. Para a maioria dos residentes de Macau, diz a sexagenária, o dia 20 de dezembro é apenas o início de um período de feriados que termina no dia de Natal.

“A minha filha aproveitou para viajar para a Tailândia com a família”, acrescenta.

Ainda assim, Leong tem expectativas para o novo Governo de Macau, a quem Xi Jinping deu hoje posse.

O novo chefe do Executivo da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), Ho Iat Seng, “tem de construir mais habitação pública, porque as rendas estão altas demais, e encontrar melhores empregos para os locais”, diz.

Já Wong prefere sublinhar que “Macau mudou muito" desde 1999, quando Macau voltou a ser um território administrado pela China, e que "a economia melhorou bastante”.

Wong trabalha como motorista de autocarro, uma de várias profissões reservadas para residentes em Macau, o que levou a que o salário mediano no setor dos transportes tenha triplicado nos últimos 20 anos, atingindo 16 mil patacas (2 mil euros).

Do outro lado da rua está um hotel-casino onde Feng veio apostar uns trocos. Natural da província de Hebei, na China, admite não saber que hoje se comemora o 20.º aniversário da RAEM.

“É a primeira vez que venho a Macau”, diz, em forma de justificação.

Pelo contrário, há vários meses que Miao ouve falar do aniversário na Universidade Cidade de Macau, onde começou este ano a estudar português.

“A educação aqui está a melhorar muito e parece que se investe mais do que no continente [chinês]”, diz esta estudante, vinda da província de Anhui, na China.

“Agora era bom que o metro ligeiro passasse por aqui”, acrescenta, com um sorriso, enquanto espera por um autocarro.

Também You ouviu falar da visita de Xi Jinping e estranha não ver nas ruas bandeiras, tarjas e outros adereços que assinalem a ocasião.

Ao saber que se comemora os 20 anos da administração chinesa de Macau, o visitante do território, que veio da China, responde: “Ai é? Pensei que ele [Xi Jinping] vinha cá por não ser seguro ir a Hong Kong”.

A transferência da administração de Macau de Lisboa para Pequim, em 1999, foi feita sob a fórmula 'um país, dois sistemas', que garante ao território um elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário.

A fórmula aplica-se também à outra região da China com esta administração especial, Hong Kong, onde os últimos seis meses têm sido marcados por protestos o poder político.

 

Vítor Quintã