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Jornalistas chineses queixam-se de terem sido impedidos de noticiar ação policial em Macau

Macau, China, 23 ago 2019 (Lusa) - A presidente da Associação dos Jornalistas de Macau disse hoje à Lusa que recebeu denúncias de jornalistas chineses, alegadamente impedidos de noticiar a ação policial em Macau, na sequência da proibição de uma vigília.


"Recebemos denúncias de jornalistas dos órgãos de comunicação social em língua chinesa que afirmaram que os responsáveis dos órgãos onde trabalham os impediram de fazer a cobertura" da intervenção policial, afirmou à Lusa a presidente da Associação dos Jornalistas de Macau, Maria Cheang.


Quando questionada pelo número de queixas que recebeu, Maria Cheang apontou "que foram várias", mas não vai divulgar nomes nem números "porque os jornalistas pediram anonimato".


Em comunicado, divulgado apenas em chinês, na quinta-feira, a Associação dos Jornalistas de Macau declarou estar "preocupada com este tipo de ação" por parte dos responsáveis dos órgãos de comunicação social em língua chinesa.


Na mesma nota, a Associação afirmou recear que este tipo de conduta "se espalhe ou até se intensifique na indústria", levando o jornalista a perder "a autonomia que merece, danificando a credibilidade da indústria de notícias locais" e o direito do público a ser informado.


A polícia de Macau tinha proibido uma vigília, agendada para a última segunda-feira no Largo do Senado, para condenar a violência usada pelas forças de segurança nos protestos em Hong Kong, que duram há mais de dois meses e têm sido marcados por violentos confrontos entre manifestantes e agentes antimotim.


Na segunda-feira, pelo menos meia centena de polícias posicionou-se em todas as zonas de acesso do Leal Senado, apoiados por várias carrinhas, onde foi possível ver elementos de intervenção especial munidos de escudos.


As forças de segurança identificaram sobretudo jovens, em especial quando envergam 't-shirts' pretas, a cor usada pelos manifestantes antigovernamentais e pró-democracia em Hong Kong.


Depois de relatos nos órgãos de comunicação locais sobre várias detenções no Largo do Senado, a polícia de Macau negou ter deito "qualquer indivíduo".


Numa resposta enviada à agência Lusa, a PSP confirmou o reforço policial na zona "para manter a ordem" no largo e que "levou sete indivíduos suspeitos para o Comissariado da Zona Norte para o efeito de identificação".


Segundo a força de segurança, quatro das pessoas são residentes de Macau, dois do interior da China e um de Hong Kong, sendo que "os referidos indivíduos saíram após investigação".


Na semana passada, a PSP de Macau alegou que não podia autorizar uma iniciativa de apoio ao que considerou serem "atos ilegais" de "alguns manifestantes radicais" como os ocorridos no território vizinho, também uma região administrativa especial chinesa.


Autorizar a realização de uma manifestação desta natureza, sublinhou a PSP, numa resposta enviada à Lusa, "poderia enviar uma mensagem errada à sociedade de Macau", com as pessoas a poderem vir a expressar reivindicações em oposição à lei do território, com previsível impacto na segurança pública e no Estado de Direito.


Os protestos em Hong Kong, que duram há mais de dois meses, têm sido marcados por violentos confrontos entre manifestantes e a polícia. Contudo, no passado domingo, não se registaram violências numa manifestação que, segundo a organização, juntou 1,7 milhões de pessoas e que teve uma marcha não autorizada pelas ruas da cidade durante mais de cinco horas.


A questão da brutalidade policial em Hong Kong começou após os protestos de 12 de junho, na sequência de uma intervenção das forças de segurança que usaram pela primeira vez gás lacrimogéneo e balas de borracha, uma prática que, entretanto, se vulgarizou.


A transferência de Hong Kong e Macau para a República Popular da China, em 1997 e 1999, respetivamente, decorreu sob o princípio "um país, dois sistemas", precisamente o que os opositores às alterações da lei garantem estar agora em causa.


Para as duas regiões administrativas especiais da China foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário, sendo o Governo central chinês responsável pelas relações externas e defesa.



MIM (JMC) // PJA


Lusa/Fim