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FMI justifica recessão em Macau com mau desempenho no primeiro semestre

Fabrico de notas de 100 patacas, moeda corrente de Macau, na Imprensa Nacional Casa da Moeda, em Lisboa, a 15 de outubro de 1993.

Inácio Rosa / Lusa

O Fundo Monetário Internacional (FMI), que antecipou uma recessão de 1,3% para Macau em 2019, justifica as previsões com os dados negativos da primeira metade do ano e diminuição dos investimentos e exportações resultantes do “turismo do jogo”.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu em baixa as previsões para Macau, já que em abril antecipava um crescimento acima dos 4% para este ano e, no relatório mais recente, lançado na semana passada, indicou uma recessão de 1,3% e nova contração da economia, de 1,1%, em 2020.

Numa nota enviada hoje à agência Lusa, Mariana Colacelli, chefe da missão do FMI em Macau, disse que a região administrativa especial chinesa registou crescimentos negativos, de -3,2% e -1,8% no primeiro e segundo trimestres de 2019, o que levou o FMI a corrigir as previsões.

Segundo a especialista para Macau, o que mais contribuiu para a viragem das previsões foi a diminuição dos investimentos e exportações, por sua vez afetados pelo “turismo do jogo”.

“Projetamos uma contração para 2019, já que as receitas do jogo são afetadas negativamente pelo crescimento lento da China. Além disso, a incerteza criada pelo fim das licenças de jogo em 2022 terá que ser resolvida para que o investimento recupere”, considerou a representante do FMI em Macau.

“A economia [macaense] é altamente exposta ao desenvolvimento económico, financeiro e político do continente”, considera o FMI.

A instituição prevê que o fraco crescimento e as mudanças estruturais no continente, como a introdução do setor do jogo na China, vão afetar o crescimento de Macau, por exemplo, com uma queda no turismo ou a redução de investimentos por parte dos operadores de casinos.

“Mas também existem riscos positivos”, escreveu Mariana Colacelli, referindo que a recuperação de solos pode tornar mais barato o preço das casas e deixar as fontes de crescimento menos dependentes do jogo, levando assim a um crescimento sustentável.

 

Governo de Macau admite “turbulências" a curto-prazo

Por seu turno, o Secretário para a Economia e Finanças de Macau, Lionel Leong, admitiu em declarações à Lusa que o crescimento económico daquela região da China poderá ser afetado “por turbulências" no mundo e nos “mercados próximos”.

Quando questionado sobre se os protestos e confrontos em Hong Kong poderiam afetar a economia de Macau, Lionel Leong, sem nunca se referir diretamente àquela situação, respondeu: “A longo prazo, Macau depende definitivamente do crescimento económico do nosso país, China. Sobre isto não há dúvidas. Mas, a curto prazo (...) uma turbulência está acontecendo, não só à volta do mundo, mas perto do nosso mercado".

"Há coisas novas que estão acontecendo, as quais são imprevisíveis. Durante os mandatos há sempre turbulências, mais ou menos intensas. Então, cada governo, no mundo, tem de se preparar para este tipo de turbulências. Este tipo de mudanças pode ser um desafio [...], depende da forma como as enfrentamos, e como as atacamos ou como as superamos", acrescentou, em declarações à Lusa, à margem de um evento em Lisboa.

Hong Kong atravessa há quatro meses a sua pior crise política, desde a transferência do poder para a China, em 1997, com manifestações e ações quase diárias denunciando a perda de liberdade, mas também a crescente ingerência de Pequim nos assuntos desta região semiautónoma.

Desde que as autoridades proibiram o uso de máscaras durante manifestações, no início de outubro, a onda de violência agravou-se, com vários atos de vandalismo contra empresas acusadas de apoiar o Governo pró-Pequim.

Porém, Lionel Leong acredita que as "fortes fundações" da economia macaense assegurarão um caminho cada vez "melhor e melhor".

E quando a procura crescer os investimentos "vão chegar", destacando-se também os da área financeira, defendeu.

O que para aquele responsável representa "também a mais importante oportunidade para os negócios entre os países de língua portuguesa e a China".

Macau pode ajudar às ligações entre Cantão, ou Hong Kong, por exemplo, à América Latina, através de Portugal e do Brasil, ou a Moçambique, Angola, e outros países africanos de língua portuguesa, também através do mercado português, diz o ainda secretário para a Economia e Finanças daquele território.

"Isto é a plataforma de Macau, a que chamamos de serviços financeiros” entre a China e os países de língua portuguesa, afirmou.

Por isso, deixou uma mensagem de encorajamento para que mais pessoas de Macau venham a Portugal, com o objetivo de investir neste país, porque a China “tem muitos tipos de empresas, especialmente as nacionais, que têm milhões de dólares de lucros por ano e todo o interesse em investir nos mercados de língua portuguesa”, mas que precisam de um parceiro.

Esse parceiro é Portugal: "Macau e Portugal podem fazer isso".

“Temos amigos portugueses, parceiros estratégicos, e os investidores chineses de mãos dadas com investidores portugueses podem explorar as oportunidades nos países de língua portuguesa", defendeu Lionel Leong.

Elena Lentza